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Bolo'Bolo (livro)
P.M.


Sumi

A região autônoma (sumi) é a maior unidade prática para bolos e ibus. Uma região assim pode abranger um número indefinido de bolos, bairros e comarcas, talvez vinte ou trinta comarcas, ou vários milhões de pessoas. Em casos especiais podem ser mais, ou mesmo apenas alguns milhares – como no caso de comunidades isoladas em ilhas, em montanhas, no gelo ou no deserto. Existem várias centenas de regiões no planeta; a maioria está dentro dos continentes.

Uma região é principalmente uma unidade geográfica: uma área montanhosa, um trecho entre dois rios largos ou duas cadeias de montanhas, uma grande ilha ou península, uma costa, planície, floresta, arquipélago, etc. É uma unidade, sobretudo no que concerne a transportes e viagens, e deve ter recursos bastantes para ser auto-suficiente. A maioria das trocas e da comunicação entre os bolos acontece nos limites da região. É uma unidade mais prática e cotidiana do que administrativa. Em certos casos corresponde aos atuais estados (EUA) ou repúblicas (URSS), a ducados, províncias, regiões oficiais (Itália, França), Länder (Alemanha), etc. Mas em muitos destes casos, as áreas são puramente administrativas e pouco práticas; algumas foram mesmo criadas para dividir ou anular regiões baseadas em identidades culturais, históricas ou outras.

Na verdade, as regiões não são apenas áreas geográficas (em alguns casos isso poderia ser suficiente), são unidades culturais, como os bolos. Pode haver uma linguagem ou um dialeto em comum, uma história de batalhas conjuntas, derrotas ou vitórias, estilos de vida semelhantes, estilo arquitetônico (relacionado ao clima ou à topografia), religiões, instituições, comidas, etc. Tudo isso e mais alguns acidentes podem formar um tipo de identidade regional. Com base nessa identidade, uma série de lutas aconteceram ao redor do mundo neste século e antes dele: os irlandeses, os índios americanos, bascos, corsos, ibos, palestinos, curdos, armênios, etc. A identidade cultural de uma região inteira poderia ser mais diversificada e menos típica que a de um bolo mas ainda assim nítida o suficiente para fortalecer a comunidade. Naturalmente, a identidade regional nunca pode ser um pretexto para suprimir os bolos e sua identidade. Nenhuma região elimina um bolo, e todo bolo adjacente é livre para escolher sua região. A História demonstra que regiões autônomas às quais não se nega sua própria independência cultural são muito tolerantes quanto a outras culturas também. De fato, a auto-suficiência de seus bolos é a verdadeira força de uma região autônoma. Perdendo bolos ou distritos e ganhando outros, uma região pode se adaptar continuamente a situações novas; não existem limites fixos que sempre causam conflitos e guerras desnecessários. Uma região não é um território, mas uma área viva mudando com a vida. Toda região tem embaixadas em outras regiões na forma de bolos típicos (bolos irlandeses em Nova York, Ceará-bolos em Paris, Sicília-bolos em Burgundy, Panamá-bolos na Andaluzia, etc.).

Essas regiões flexíveis também são uma chance de resolver todos os problemas causados por limites nacionais absurdos: as nações formadas com finalidades de controle e dominação se diluem na massa de regiões flexíveis.[1]

Tarefas práticas específicas das assembléias regionais: proteger usinas nucleares desativadas ou depósitos (campos minados, arames farpados, torre de metralhadores, etc., por várias dezenas de milhares de anos), manter algumas estradas de ferro, linhas de navegação, linhas aéreas, centros de computação, laboratórios, importação e exportação de energia, socorro de emergência, ajuda para bolos e distritos, mediação de conflitos, participação em atividades e instituições continentais e planetárias. Recursos e pessoal para isto podem ser liberados na forma de trabalho comunitário (kene) por comarcas, bolos ou bairros.

As assembléias regionais podem ter as formas mais diversas. Uma solução conveniente poderia ser a seguinte: dois delegados de cada comarca, quarenta delegados de vinte bolos escolhidos por sorteio – cerca de sessenta membros. Esse sistema preveniria a discriminação das culturas minoritárias (e também as culturas que não são típicas da região estariam representadas). Ainda haveria dois observadores-delegados (dudis) de outra assembléia, e dois delegados de cada região adjacente. Assim, na assembléia regional da cidade do Rio de Janeiro haveria delegados plenamente participantes de Nova Iguaçu, Caxias, Niterói, etc. (e vice-versa). Através dessa representação horizontal, a cooperação e o intercâmbio de informações entre as regiões seriam encorajados, e todas seriam menos dependentes dos níveis superiores. Várias regiões poderiam também formar cooperativas ou alianças, especialmente quanto a transporte e matéria-prima.

Na Europa (num amplo sentido geográfico) poderiam existir umas 100 regiões, nas Américas 150, na África 100, na Ásia 300 e no resto do mundo 100, o que dá umas 750 regiões ao todo.

Mundo fragmentado


Referências

  1. Nestes tempos de crescente nacionalismo, parece quase suicida falar na abolição de nações. Como nos foi dito pelos teóricos marxistas da libertação que o nacionalismo é um passo necessário na batalha da independência contra o imperialismo, essa proposta parece encaminhar uma nova estratégia imperialista. Isso seria realmente verdade se somente as nações pequenas abrissem mão de sua existência enquanto as supernações imperialistas continuassem a exercer seu poder. A abolição das nações significa em primeiro lugar a subversão e o desmantelamento dos Estados Unidos e da União Soviética, a anulação dos dois blocos; sem isso, tudo o mais seria pura arte pela arte. Existem tendências centrífugas nas duas superpotências, e essa decomposição precisaria ser conseguida de qualquer jeito. O elemento principal do antinacionalismo não é uma espécie de pálido internacionalismo, mas o fortalecimento da regionalidade e das identidades culturais. Isso também é válido para pequenas nações: quanto mais reprimirem suas minorias culturais em nome da "unidade nacional", mais fracas ficarão e mais centralizados serão os superpoderes. (Precisamos considerar também que deve haver esperança para as minorias oprimidas nas supernações.) Muitos erros foram cometidos quanto à chamada questão das nações. Os socialistas acreditavam na superação do nacionalismo através do desenvolvimento de uma moderna civilização industrial internacional e consideravam a autonomia cultural como um pretexto para a regressão. Confrontadas com essa "utopia" socialista, a maioria das classes trabalhadoras preferiu um nacionalismo reacionário. Fascistas, partidos burgueses, regimes nacionalistas e outros exploraram o medo que as classes trabalhadoras tinham de um regime socialista mundial que as privasse até de seus pequenos núcleos de tradição étnica. As classes trabalhadoras também compreenderam que o "modernismo" socialista era apenas um nome para uma nova e aperfeiçoada Máquina Planetária do Trabalho. O problema não é o nacionalismo, mas o estatismo. Não há nada errado em se falar a própria língua, insistir nas tradições, história, culinária, etc. Mas assim que essas coisas se ligam a um organismo estatal centralizado, hierarquizado, armado, tornam-se motivações perigosas para o chauvinismo, o desprezo pela diversidade, os preconceitos – são elementos da guerra psicológica. Dar ao Estado a tarefa de proteger nossa própria identidade cultural nunca foi um bom negócio: os custos são altos e as mesmas tradições culturais são pervertidas pela sua influência. As culturas étnicas quase sempre foram capazes de conviver em paz enquanto mantiveram os Estados à distância. Comunidades árabes e judias viveram lado a lado sem maiores problemas na Palestina, no Marais (Paris), no Brooklyn (Nova York) e na Rua da Alfândega (Rio de Janeiro), sem jamais tentarem um organização separatista. Claro que não é errado os judeus quererem realizar a idéia de seu próprio Estado; suas comunidades na Alemanha, Polônia, Rússia, etc. foram atacadas por Estados, e eles não tinham escolha senão organizar-se da mesma maneira. O estatismo é como uma doença infecciosa. Após o estabelecimento do Estado de Israel, os palestinos ficaram com o mesmo problema que os judeus tinham na Alemanha. Não é culpa de ninguém – mas o problema permanece. Não adianta perguntar quem começou com isso, nem um Estado judeu ou palestino pode resolver a questão, e não há instrumentos realpolitikos à vista. Algumas regiões autônomas (sumi) incluindo comarcas ou bolos de judeus, árabes, drusos e outros resolveriam o problema, mas só se acontecesse o mesmo no mundo inteiro. Os conflitos do Oriente Próximo podem ocorrer em qualquer lugar a qualquer momento: Beirut é apenas um ensaio preparatório para Nova York, Rio, Paris, Moscou...


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Vudo Sumi Asa


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