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Espere Resistência
CrimethInc


Chega de falar sobre a desintegração do nosso pequeno movimento - vamos voltar a falar sobre voar, nosso assunto inicial. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Castelo Colditz, uma fortaleza de mil anos perto de Dresden, foi escolhido pelos nazistas para servir como um campo de prisioneiros de guerra de segurança máxima. Colditz era a prisão à qual os nazis enviavam os prisioneiros aliado mais teimosos em fugir, e, conseqüentemente, se tornou uma escola de fugas de alto nível.


Depois de várias tentativas usando táticas tradicionais como esconderijos, disfarces e cordas, o Comitê de Fugas aprovou um plano para fugir pelo ar. Em 1942, prisioneiros começaram a construir um planador que seria lançado do telhado do castelo e pilotado até um campo do outro lado de um rio próximo. O planador foi todo montado com material da prisão: tábuas do piso, lençóis, parafusos, colas e ferramentas improvisadas. A aeronave estava quase pronta para voar quando Colditz foi libertada pelas tropas aliadas; testes que foram feitos mais tarde mostraram que poderia ter dado certo. Sob as condições mais difíceis os prisioneiros inventaram um avião!


Como um meio para escapar dos limites físicos da prisão, o avião era um plano ridículo: levou anos para ser construído, exigiu uma enorme quantidade de recursos, e só seria capaz de transportar duas pessoas a apenas mil metros dos muros. Entretanto o plano parece diferente, se ajustarmos a nossa noção do que se constitui uma prisão. Se a prisão não é a condição de confinamento espacial, mas todo um espectro de confinamentos, que vai desde barras de ferro até o debilitante desespero do tédio suburbano, o que se qualifica como uma fuga de sucesso também parecerá diferente.


Os soldados que estavam aprisionados em Colditz provavelmente nunca se tornariam inventores se não tivessem sido capturados. Eu refletia sobre isso enquanto viajava pelo país cobrindo enchentes, incêndios, tornados e acidentes industriais. No geral, os sobreviventes me deram a impressão de serem mais corajosos, inventivos e emocionalmente presentes do que qualquer pessoa nas cidades que foram poupadas. Mesmo aqueles que haviam perdido todas suas posses tinham ganhado a única coisa que não podiam comprar no supermercado a qualquer preço - urgência. Isso lhes dava algo em comum com aqueles de nós que haviam transformado suas próprias vidas em desastres ao tentar mapear uma rota para fora de nossa desastrosa sociedade.


A fascinação popular pelos relatos de sobrevivência em desastres soava para mim como uma tácita admissão de que algo estava faltando no cotidiano da maioria das pessoas. Executivos em bares de hotel nunca se cansam da história de Colditz; nas entrelinhas estava escrito que eles também poderiam inventar aviões se não estivessem presos em empregos bem pagos.

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