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Bolo'Bolo (livro)
P.M.


Suvu

Além de comida e energia, água é um elemento crucial para a sobrevivência do ibu (se ele assim desejar). Enquanto o suprimento de água ainda é um problema não resolvido em muitas partes do mundo, a água é desperdiçada em outras partes, principalmente na limpeza e na descarga (conduzindo excrementos ou lixo). Não é usada em sua qualidade específica de água (suvu), mas para facilitar o transporte via esgoto.

Muito do que hoje em dia se faz lavando, limpando, enxaguando e chuveirando não tem nada a ver com o bem-estar físico ou com o desfrute do elemento suvu. O chuveiro de manhã não é tomado pelo prazer de sentir a água corrente, mas pelo propósito de nos acordar e nos desinfetar, aprontando nossos relutantes corpos para o trabalho. Produções em massa causam o risco de infecções em massa, e requerem higiene disciplinada. Faz parte do Trabalhador A manter a força de trabalho para a máquina-trabalho. Lavar, trocar diariamente a roupa de baixo, colarinhos brancos, tudo isso é puro ritual da disciplina do trabalho, servindo de meio de controle para os patrões determinarem a devoção dos subordinados. Não há nem mesmo uma função direta, produtiva ou higiênica, em muitas dessas atividades, é apenas o teatro da dominação. Lavagens muito freqüentes e uso prolongado de sabonetes, xampus e desodorantes podem até ser prejudiciais à saúde – danificam a pele e destroem culturas bacterianas úteis. Essa função disciplinar da limpeza é revelada quando paramos de tomar banho durante as férias, ou mudamos a roupa de baixo com menos freqüência, ou nos lavamos menos compulsivamente. Sujeira e direito a estar sujo podem mesmo ser uma forma de luxo.

Water drop

Em muitas partes deste planeta a relação com o sujo (substâncias dysfuncionais) é neuroticamente atacada, principalmente por causa da nossa educação ou pela função disciplinar da limpeza. Mas a limpeza não é objetiva e sim culturalmente determinada. Limpeza externa é uma forma de repressão de problemas internos. Mas a sujeira não pode nunca ser removida deste mundo, pode apenas ser transformada ou deslocada. (Isto é particularmente verdade para as formas mais perigosas de sujeira, como resíduos químicos ou radioativos, os quais a síndrome de limpeza convenientemente ignora.) O que é removido de uma casa como sujo aparece depois na água, misturado com detergentes químicos para criar uma espécie ainda mais perigosa de sujeira, talvez um pouco menos visível do que antes. Para tanto são criadas estações de purificação que requerem a produção de enormes quantidades de concreto, aço, etc. – e de mais sujeira ainda, causada pela poluição industrial. O estrago (e o trabalho) que é causado pela limpeza exagerada não está em relação sadia com o (imaginário) ganho em conforto. O trabalho de limpeza não apenas produz sujeira sob forma de águas poluídas, mas também exaustão e frustração nos limpadores. (Na verdade, trabalho exaustivo e enfadonho é a forma mais importante de poluição ambiental – por que um corpo poluído se preocuparia com a preservação da natureza?)

Como as funções disciplinares da limpeza e a maioria dos grandes processos industriais que precisam de água vão desaparecer, os bolos podem reduzir o consumo atual de água para um terço ou menos. Comunidades e processos pequenos são limpos porque todos os seus componentes e influências podem ser cuidadosamente ajustados e todas as substâncias usadas em sua forma específica. Como o bolo é grande o bastante para fazer reciclagens fáceis e eficientes, muito da sujeira ou do lixo pode ser usado como matéria-prima para outros processos. A poluição atmosférica será baixa, a poluição pelo trabalho regular também, e há um interesse direto em evitar trabalhos de limpeza em geral, já que eles deverão ser feitos diretamente por quem os causou.

Tunnel

Muitos bolos poderão atingir a auto-suficiência no abastecimento de água coletando água de chuva em tanques ou usando fontes, rios, lagos, etc. Para outros, será mais conveniente organizar o abastecimento na estrutura de cidades, vales, ilhas, etc. Muitos bolos de regiões áridas vão precisar da ajuda de outros bolos (em bases bilaterais ou mundiais) para abrir poços ou construir cisternas. No passado o problema da água foi resolvido em condições extremamente difíceis (desertos, ilhas, etc.). A atual crise mundial de água é sobretudo devida a hiperurbanização, à destruição dos padrões tradicionais de agricultura e à introdução imprópria de novas tecnologias e produtos. O uso e a disponibilidade suficiente de água são ligados ao passado cultural, não apenas a questões técnicas.




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Pali Suvu Gano


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