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Caos: Os Panfletos do Anarquismo Ontológico
Hakim Bey



Meat is Murder

A arte-sabotagem aspira ser perfeitamente exemplar, mas, ao mesmo tempo, retém um elemento de opacidade – não propaganda, mas choque estético – aterradoramente direta, mas ainda assim sutilmente transversal – ação -como-metáfora.


A arte-sabotagem é o lado negro do Terrorismo Poético – criação -através-da-destruição –, mas não pode servir a nenhum partido ou niilismo, nem mesmo à própria arte. Assim como a destruição da ilusão eleva a consciência, a demolição da praga estética adoça o ar no mundo do discurso, do Outro. A Arte-Sabotagem serve apenas à percepção , atenção , consciência.


A arte-sabotagem vai além da paranóia, além de desconstrução – a crítica definitiva – ataque físico à arte ofensiva – cruzada estética. O menor indício de um egotismo mesquinho ou mesmo de um gosto pessoal estraga sua pureza e vicia sua força.


A arte-sabotagem não pode nunca procurar o poder – apenas renunciar a ele.


Obras de arte individuais (mesmo as piores) são amplamente irrelevantes – a AS procura causar danos às instituições que usam a arte para diminuir a consciência e lucrar com a ilusão. Este ou aquele poeta ou pintor pode ser condenado por falta de visão – mas Idéias malignas podem ser atacadas através dos artefatos que eles criam. O MUZAK[1] foi feito para hipnotizar e controlar – seu mecanismo pode ser destruído.


Queima pública de livros – porque caipiras reacionários e funcionários das alfândegas devem monopolizar essa arma? Livros sobre crianças possuídas pelo demônio; a lista de best sellers do Estado de São Paulo ; tratados feministas contra a pornografia; livros escolares (especialmente de estudos Sociais, Educação Moral e Cívica e Saúde); pilhas da Folha de São Paulo, Veja, Isto É e outras publicações de supermercado; uma compilação de editoras cristãs; alguns romances populares – uma atmosfera festiva, garrafas de vinho e baseados numa tarde clara de outono.


Jogar dinheiro para o alto no meio da bolsa de valores seria um Terrorismo Poético bastante razoável – mas destruir o dinheiro seria uma excelente Arte-Sabotagem. Interferir numa transmissão de TV e colocar no ar alguns minutos de arte incendiária caótica seria uma grande feito de Terrorismo Poético – mas simplesmente explodir a torre de transmissão seria uma ato de Arte-Sabotagem perfeitamente adequado.


Se certas galerias e museus merecem, de vez em quando, receber uma tijolada pela janela – não a destruição , mas sim uma sacudida na sua complacência –, então o que dizer dos BANCOS? Galerias transformam beleza em mercadoria, mas bancos transmutam a Imaginação em vezes e dívida. O mundo não ganharia um pouco mais de beleza com cada banco que tremesse... ou caísse?


Mas como? A Arte-Sabotagem provavelmente deve ficar longe da política (é tão chata!) – mas não dos bancos.


Não faça piquetes – vandalize. Não proteste – desfigure. Quando feiúra, design podre e desperdícios estúpidos estiverem sendo impostos a você, transforme-se num luddita[2], jogue o sapato no mecanismo, retalie. Esmague os símbolos do Império, mas não o faça em nome de nada que não seja a busca do coração pela graça.


Referências

  1. Sistema de distribuição de música ambiente. (N.T)
  2. Membro dos grupos de trabalhadores ingleses que, no início da revolução industrial, revoltaram-se contra o desemprego causado pelo novo maquinário têxtil, procurando destruí-lo. (N.T)


Caos: Os Panfletos do Anarquismo Ontológico
Paganismo Arte-Sabotagem Os Assassinos
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