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Bolo'Bolo (livro)
P.M.


Gano

bolo’bolo é uma fórmula para o ibu ganhar mais tempo e também mais espaço (gano). Telhados de lojas, garagens, escritórios, depósitos, muitas ruas e quarteirões, edifícios de fábricas, tudo ficará disponível para nova utilização pelos bolos e ibus. Já que não teremos mais propriedades nem leis para construções, todos os tipos de restrições privadas, especulações e sub ou superutilizações desaparecem. Os bolos podem usar seus prédios como quiserem, podem transformar, conectar, pintar, subdividir, tudo conforme sua bagagem cultural (nima). Claro que vão surgir problemas, conflitos sobre qual bolo fica com qual prédio e espaço em geral. Esses problemas podem ser discutidos e resolvidos na estruturação de comunidades maiores (bairros, cidades e até regiões), onde cada bolo é representado por seus delegados (ver tega, vudo, sumi). Mesmo havendo graves disputas, ninguém pode reclamar o controle sobre prédios que não esteja ocupando. Ao contrário do sistema atual de propriedade, isso pode evitar a maioria dos abusos.

Os bolos não estarão primariamente interessados em construir novas estruturas, mas em usar as que já existem de novas formas, e em reusar todo o material de construção que foi abundantemente acumulado em muitos lugares. Os bolos vão preferir materiais locais, já que o transporte requer energia e trabalho valiosos. Nesse contexto, métodos esquecidos podem ser muito úteis e deveriam reviver: construções de barro, adobe, folhas de palmeira, madeira, bambu, etc. Os métodos de construção também estão ligados ao sistema de energia de um determinado bolo, por exemplo, para energia solar passiva, zonas de insolação, estufas, aquecimento e refrigeração. O estilo arquitetônico internacional de aço, vidro e concreto consome energia demais e é impróprio para a maioria dos climas. O mesmo vale para casas individuais padronizadas, particularmente aquelas que formam ridículas e perdulárias espreguiçadeiras suburbanas tão carente de função comunitária ou cultural. Novas utilizações dessas casas ou bairros por bolos são problemáticas, mas ainda possíveis através de certas adaptações e modificações. Prédios grandes podem ser parcialmente cobertos por terra para plantar e providos de estufas de vidro para reduzir a perda de energia. Os lados mais frios podem ser fechados durante temporadas de inverno, ou usados como depósitos ou oficinas (aquecer despenderia muita energia). Escadas poderiam ser construídas entre andares de prédios adjacentes para conectar os cômodos a casas maiores (kana).

Bolo

Casas unifamiliares de subúrbio podem ser ligadas por arcadas, prédios intermediários, halls comuns e oficinas, e condensarem-se em bolos. Outras casas vão ser derrubadas para dar espaço a jardins e para fornecer o material de construção necessário ao local:

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Constituição de uma casa Multinuclear

Como todos os bolos podem expressar sua identidade cultural na arquitetura, a atual monotonia de muitos bairros vai desaparecer. As áreas urbanas serão vivas e múltiplas de novo, acima de tudo porque não haverá divisão entre áreas centrais e suburbanas, entre os bairros culturais e os meramente reprodutivos. A qualquer hora, inclusive à noite e aos domingos (alguns bolos talvez se agarrem a perversidades tais como semanas, meses, anos), haverá ibus nas ruas, nas esquinas, nos quintais. Com o fim do dia de trabalho regular, desaparecem também os períodos de descanso geral. Não há lojas (exceto pelo mercado do bairro: ver sadi) e assim não há hora de fechar ou ruas vazias. Os bolos estão sempre abertos.

Os acomodamentos, a variedade, a necessidade de permanentes adaptações e transformações para mudar as identidades culturais vão dar às cidades uma imagem meio caótica, medieval ou oriental (vamos lembrar dos tempos quando eles eram mais animados). Improvisações, estruturas transitórias de todos os tipos, ampla diversidade de materiais e estilos vão caracterizar a arquitetura. Tendas, cabanas, arcadas, passarelas, pontes, torres, túneis, ruínas, corredores, etc., tudo vai ser muito comum, já que se precisa ter acesso a diferentes partes do bolo sem se expor ao tempo. Bolos adjacentes podem optar por instituições comuns. Andar vai ser a forma mais freqüente de viajar.

No total vai haver mais espaço para os ibus do que o presente permite. Imensos depósitos e instalações comerciais estarão disponíveis. Todo ibu vai ter lugar para sua oficina, atelier, estúdio, sala de exercícios, biblioteca, laboratório. A distribuição do espaço de viver não pode ser regulada por leis (por exemplo, "todo ibu tem direito a quarenta metros quadrados"), já que as necessidades são determinadas por cargas culturais. Certos estilos de vida requerem dormitórios, outros requerem celas individuais, quartos coletivos, capelas, redes de dormir, torres, porões, refeitórios, muitas paredes, poucas paredes, tetos altos, arcos cruzados, casas compridas, telhados abruptos, etc.

Embora as causas reais de muitas formas de violência social (brigas, estupros, assaltos) não sejam exclusivamente devidas ao anonimato da vizinhança de hoje, a animação permanente dos espaços públicos e privados pelos ibus locais pode ser uma contribuição eficiente para tornar tais atos impossíveis. Os bolos são também a condição para um tipo de controle social espontâneo, uma espécie de polícia passiva... A desvantagem de um sistema baseado em contatos pessoais consiste em que se é conhecido por praticamente todo mundo, ou imediatamente reconhecido como um estranho. Você não pode arcar facilmente com a ruína da sua reputação... Por outro lado, todo bolo terá seu próprio padrão moral.




Bolo'Bolo (livro)
Suvu Gano Bete


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