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Bolo'Bolo (livro)
P.M.


Sadi

Presentes, fundos comuns e acordos de trocas, combinados com auto-suficiência, reduzem drasticamente a necessidade de câmbios econômicos, isto é, de valor calculado. A diversidade das identidades culturais destrói o pedestal da produção de massa, e assim também a sua comercialização. O investimento em tempo-trabalho será difícil de comparar, e a medida exata do valor de troca (através do dinheiro) será praticamente impossível. Mas assim mesmo pode ocorrer que certos ibus (eles ainda têm seu baú particular, o taku) ou bolos se interessem nesse tipo de trocas calculadas, para determinados fins. Essa é a função dos mercados locais, sadi. Esses mercados complementam as possibilidades de troca, determinando uma pequena parte da base existencial dos bolos.

Sob essas condições a circulação de dinheiro deixa de ser perigosa e não pode desenvolver seus efeitos infecciosos – o dinheiro vai ser um meio muito restrito.

A maioria dos bairros e comarcas (cidades) organiza feiras diárias, semanais ou mensais; as regiões mantêm feiras periódicas. Bairros ou cidades estabelecem locais especiais (antigos galpões de fábricas, grandes lojas, hangares, etc.) para seus mercados, de forma que possam funcionar também no inverno ou quando chove. Em torno dos mercados podem florescer inúmeras atividades sociais como bares, teatros, cafés, bilhares, salas de show, etc. Os mercados, como os bazares, serão pontos de encontro, espaços para a vida social e o entretenimento. Ao mesmo tempo, são pretextos para centros de comunicação.

Market sadi

Os mercados serão organizados e supervisionados por comitês (sadi’dala). Esses comitês vão determinar, de acordo com a decisão das respectivas assembléias, quais produtos podem ser trazidos para o mercado e em que condições. Mercados são ideais para produtos não-essenciais, fáceis de transportar, raros, duráveis e altamente sofisticados. Tais produtos terão freqüentemente características únicas, serão construções individuais, especialidades, delicadezas, drogas, joalheria, roupas, programas, etc. Se você precisa de tais itens não pode depender de presentes, e eles também não são próprios para acordos de troca a longo prazo. Se houver um banco de dados, é possível conseguí-los usando o mercado eletrônico.

Como não vão existir cédulas ou moedas internacionais, o mercado local vai ter seu próprio dinheiro não-conversível, ou talvez fichas como as de cassino. Os compradores e vendedores entram num mercado desses sem dinheiro algum e abrem uma conta de crédito no escritório do comitê do mercado (novamente, uma coisa simples de fazer por computação). Aí recebem 100 ou 1.000 cruzados, cruzeiros, shillings, florins, pennies, dólares, ecus, pesos, rublos, etc., que ficam devendo ao banco do mercado. Com esse dinheiro eles podem comprar e vender até o mercado fechar, no fim da tarde. Então eles devolvem as cédulas ou moedas, e um saldo positivo ou negativo é registrado sob seus nomes até o dia seguinte, etc. Essas contas não podem ser transferidas para outros mercados. A acumulação de contas muito grandes (fortunas) poderia ser dificultada pela programação de um dado misterioso no computador que cancelasse de repente todas as contas após períodos de, digamos, seis meses a dois anos. Já que não há aparato policial para punir quebras contratuais, qualquer tipo de negócio seria muito arriscado. Nada disso bane completamente a circulação do dinheiro, porque os ibus ainda poderiam se refugiar no ouro e na prata. Em distritos isolados, a moeda local poderia circular sem problema algum. A auto-suficiência e as outras formas de troca são o que mantêm o dinheiro dentro de certos limites (como acontecia na Idade Média).[1]


Sistema de produção e trocas


Referências

  1. Em algumas utopias ou concepções alternativas encontramos sistemas monetários ilusórios que supostamente resolveriam o problema dos abusos monetários através de diferentes formas de dinheiro. A chamada moeda-trabalho (tempo de trabalho em vez de cruzados, dólares, francos, etc.) é apenas dinheiro puro (como Marx demonstrou no caso do sistema de Owen). A proibição do lucro, ou a desvalorização automática (conforme proposta do suíço Silvio Gesell), ou a impossibilidade de possuir terras, todas pressupõem um Estado central poderoso para punir, controlar, coordenar, ou seja: a continuidade do anonimato social e da irresponsabilidade básica. O problema não é o dinheiro (ou ouro, ou prata), mas a necessidade ou o desejo de troca econômica num determinado contexto social (ver nota em Feno). Se a troca é desejável, haverá dinheiro (ou contas eletrônicas, ou vales, ou simplesmente memória). Como a troca econômica é minimizada em bolo’bolo, dinheiro não tem um papel importante. (Não precisará ser proibido; e, de qualquer modo, quem faria isso?)


Bolo'Bolo (livro)
Feno Sadi Fasi


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