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Teses sobre o Bolchevismo
Helmut Wagner


As «Teses sobre o bolchevismo» foram redigidas em 1933, por Helmut Wagner, membro da rede Combatentes Vermelhos (Rote Kämpfer - RK) na Alemanha. O texto resumia as discussões ocorridas no grupo de Dresde da RK, entre 1931 e 1932, e circulou desde 1933, mimeografado, para a discussão noutros grupos.

Em 1934, as «Teses» foram publicadas, na Holanda, pelo Grupo de Comunistas Internacionais (GIC), no Rätekorrespondenz nº 3, em holandês e alemão. No mesmo ano, foram traduzidas para o inglês pelo grupo de comunistas de conselhos estadunidense, no qual atuava Paul Mattick, e publicadas na revista International Council Correspondence volume I (nº 3, Dezembro). Essa tradução foi reimpressa, em 1935, como folheto, pela Federação Comunista Antiparlamentar (APCF) de Glasgow, com o título de «Papel burguês do bolchevismo e sua relação com o comunismo mundial». No fim dos anos 30, o folheto da APCF foi distribuído internacionalmente.

A versão alemã, publicada pelo GIC, tinha um erro: faltava a tese de número 60, saltando de 59 a 61. Assim, o texto alemão possuía aparentemente 68 teses, mas só havia 67. Na primeira tradução inglesa e nas seguintes, o erro foi “corrigido” mudando a numeração: a tese 61 passou a ser a 60, a tese 62 a ser 61 etc. Felizmente, apareceu o manuscrito original do autor, conservado no Arquivo Federal de Koblenz na Alemanha.

O manuscrito de Koblenz, embora tenha algumas divergências com a versão final, coincide em grande parte com ela. Nele havia uma tese "extra", indicando que o salto na numeração do original alemão se devia a uma falha de impressão, não a um erro na numeração. Essa tese, que corresponde ao número 60, foi incluída nesta edição, restabelecendo a numeração original.

Se houve traduções das «Teses» ao português, terão sido efêmeras e provavelmente se perderam. Existe uma tradução espanhola, publicada na compilação intitulada «Crítica do bolchevismo» (editorial anagrama, 1976), a partir duma tradução francesa.

As «Teses sobre o bolchevismo» são um documento básico para entender o processo cujo desfecho foi a ruptura entre o comunismo de conselhos e o bolchevismo. Nas «Teses sobre o bolchevismo» encontram-se resumidos os posicionamentos dos comunistas de conselhos contra o bolchevismo que foram se formando no período compreendido entre 1918 (começo da revolução alemã) e o início dos anos 30. Embora não constituam uma análise pormenorizada e exaustiva, as «Teses» são uma resposta acabada dos comunistas de conselhos aos partidários do bolchevismo, superando o confronto dos anos 20 entre a acusação leninista de «esquerdismo» e a refutação «taticista» procedente do KAPD [1]. Os antecedentes diretos das posições de Wagner estão nos escritos de Otto Rühle, representante da tendência «unitária» [2], entre 1920 e 1924, e sintetizados no seu livro “Da revolução burguesa à revolução proletária” (1924).


Referências

  1. Esta refutação «taticista» foi desenvolvida na Resposta de Herman Gorter ao Esquerdismo de Lênin (pode ser encontrada em espanhol na página de ediciones espartaco internacional, no livro descarregável «La izquierda comunista germano-holandesa contra Lênin»). Os comunistas de conselhos estavam em parte vinculados ao KAPD (Partido Operário Comunista da Alemanha), fundado em 1920, e consideravam que as diferenças com os bolcheviques eram táticas e se baseavam nas diferenças das condições orientais e ocidentais da luta de classes. A partir da expulsão do KAPD da III Internacional, da derrota da revolução alemã e do curso da política bolchevique na Rússia e no mundo, entre 1921 e 1924, irá se produzindo a guinada da fração conselhista «kapdista» para as posições antibolcheviques radicais, que já se vinham sendo sustentadas pela tendência «unitária» (ver nota 2) desde 1921. As «Teses» foram, assim, um passo adiante na unificação dos comunistas revolucionários frente ao bolchevismo.
  2. A tendência «unitária» defendia a supressão do partido político e o pleno desenvolvimento das Uniões Operárias, como organizações unitárias (econômicas e políticas), considerando que em condições revolucionárias a luta econômica se transforma diretamente em luta política e vice-versa, e que os partidos políticos, inclusive o KAPD, são um obstáculo ao livre desenvolvimento da atividade proletária de massas. Otto Rühle, um de seus primeiros representantes, dizia (em 1920, depois da sua viagem a Rússia, como delegado do KAPD ao II Congresso da III Internacional): «Os operários russos são mais explorados que os operários alemães». E, e em 1921, denunciava:
    ««A Rússia não tem um sistema de conselhos, mas uma comissariocracia, uma burocracia de comissários, que a governa. Os Sovietes são eleitos de acordo com listas de candidatos propostos pelo Partido; existem sob o terror do regime. Portanto, não são conselhos num sentido revolucionário, são conselhos 'de fachada', uma caricatura política. Na Rússia, todo o poder pertence à burocracia, que é o inimigo mortal do Sistema de Conselhos.

    Mas a autonomia proletária e a economia socialista exigem o Sistema de Conselhos. Neste, tudo se produz segundo a necessidade, e todos tomam parte na administração. O partido bolchevique impede que a Rússia tenha um Sistema de Conselhos. E sem conselhos não há construção socialista, não há comunismo. A ditadura do partido é um despotismo dos comissários, é capitalismo de estado... »

    «... A ditadura czarista era a de uma classe sobre as demais classes, a dos bolcheviques é a de 5% de uma classe sobre as outras classes e os 95% da sua própria classe. »

    («Questões Fundamentais de Organização», publicado em Die Aktion, nº 37, 1921.)»


Teses sobre o Bolchevismo
Apresentação (Teses sobre o Bolchevismo) A Significação do Bolchevismo
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