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O tempo é um sistema de medida, ao qual se pode nomear, dirigente e autoritário. Existe uma razão pela qual durante muitas insurreições, os relógios foram esmagados e os calendários queimados. Houve aí um reconhecimento semi-consciente por parte destes insurgentes de que tais artefatos representassem a autoridade à qual eles se rebelaram assim como os os reis ou presidentes, a lei ou os soldados. Mas no entanto não demorou muito para que novos relógios e calendários fossem criados, já que dentro das cabeças de ditos insurgentes o conceito do tempo ainda governava.

O tempo é uma construção social que é usada para medir o movimento através do espaço, de modo a controlá-lo e anexá-lo a um contexto social. Assim sejam os movimentos do sol, da lua, estrelas e planetas no firmamento, os movimentos dos indivíduos sobre os terrenos em que andam, ou os movimentos de eventos sobre os artifícios conhecidos como dias, semanas, meses e anos, o tempo é a forma com a qual estes movimentos são atadas a uma utilidade social. A destruição do tempo é essencial para a libertação do indivíduo do contexto social, à libertação de indivíduos como uma entidade consciente, autônoma e criadora de sua própria vida.

A revolta na contramão do tempo não é nada se não for uma revolta na contramão da dominação do tempo na vida diária. Esta, chama para uma transformação da maneira na qual alguém se move através dos espaços que vai encontrando. O tempo domina nosso movimento através do espaço como um recurso “necessário” para chegar a um destino, um itinerário, uma pontuação. Enquanto o contexto social o qual produziu o tempo como um recurso de controle social continua existindo, é duvidoso que algum de nós possa ser capaz de completamente erradicar os destinos, itinerários e pontuações de nossas vidas. No entanto examinar cuidadosamente como esta maneira de interagir afeta a forma em que alguém se move através do espaço, poderia ajudar alguém a criar por si mesmo um movimento mais consciente. O mais notável efeito de ter que chegar à algum lugar (um destino), especialmente quando alguém tem que estar neste destino em certo tempo (itinerário/ pontuação), é a falta de conhecer o terreno sobre onde se move. Tal movimento tende a ser um tipo “de caminhar-dormindo” do qual o indivíduo não cria nada, já que o destino e o itinerário pré-criam a travessia e a definem. este Alguém só é consciente de seus arredores e como eles afetam no mínimo de extensão necessário para chegar onde vai. Eu não nego que a maioria dos ambientes através do qual alguém se move, especialmente num ambiente urbano, podem ser perturbantes e desagradáveis, fazendo nossa inconsciência estética implorar, mas esta falta de consciência causa o perder de muitas oportunidades de subversão e jogar com aquilo que de outra maneira é criado.

Subverter o próprio movimento através do espaço, fazendo isto da sua própria maneira, livre das ataduras do tempo, é só questão de converter tal movimento a um movimento preferencialmente nômade que é antes transportar-se a si mesmo. O movimento nômade faz uma divertida (ainda que séria) exploração do terreno sobre o qual alguém vai passando, o aspecto essencial da travessia. O caminhante interage com os lugares pelos quais vai passando, conscientemente mudando e sendo mudado por eles mesmos. O destino, ainda que este existe, é de mínima importância, já que este também será um lugar pelo qual vai passar. Assim então, conforme esta forma de movimento através do espaço se converte num habito pessoal, pode também realçar a sabedoria do mesmo, permitindo-lhe se converter menos dependente dos destinos pré-traçados, de itinerários, pontuações e outros grilhões que impõe a regra do tempo sobre nossos movimentos. Parte do refinamento da sabedoria nômade dentro do atual contexto dominado é a habilidade de aprender a criar formas de atuar sobre tempo, subverte-lo e usá-lo contra ele mesmo para ampliar o livre andar próprio.

Um modo radicalmente diferente de experimentar a vida ocorre quando conscientemente criamos tempo para nós mesmos. Por causa dos limites de uma linguagem desenvolvida dentro deste contexto social de tempo-domado, esta maneira de experimentar a vida é comumente referido em termos temporários também, mas como um “tempo” subjetivo, como em: “A vez quando estava escalando o Monte Hood…” Mas talvez não preferiria referir-se a este como um “tempo” subjetivo já que não tem nenhum propósito compartilhado com o tempo social. É talvez preferível chamar de uma experiência nômade. Dentro da experiência nômade, os cumes, os vales e planícies não são criados em ciclos constantes e mensuráveis. São interações passionais do tipo que podem converter um momento a uma eternidade e nas semanas subseqüentes uma mera piscada. Nesta apaixonante travessia, o sol nasce e repousa no entardecer, a lua resplandece e mingua, as plantas florescem carregam frutos e se murcham mas não em ciclos que se possam medir.

Em vez disso, alguém poderia experimentar estes eventos em termos passionais e de interação criativa com eles. Sem nenhum destino real que defina o movimento próprio através do espaço, e ao mesmo tempo, o tempo linear se volta sem sentido.Uma experiência nômade sempre esta fora do tempo, não num sentido místico, mas em reconhecer que o tempo é a mistificação do movimento através do espaço e que como toda mistificação, usurpa nossa habilidade de criar a nós mesmos.

Uma muito consciente e divertida investigação exploradora de nossos próprios movimentos no espaço, de nossas próprias interações com os lugares que atravessamos, é a prática necessária para a revolta contra o tempo - nada mais que criar eventos e sua própria linguagem. Até nós começarmos a transformar a nós mesmos em criadores nômades. De outra maneira se seguimos vivendo nossas vidas da mesma maneira que hoje as vivemos, cada relógio achatado e cada calendário queimado será simplesmente substituído já que o tempo continua dominando nossa maneira de viver.

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